Antes de falar disso cabe uma pequena explicação sobre o crescimento das árvores, mais especificamente o crescimento radial do caule. Principalmente em plantas de clima temperado, com estações bem definidas, o sistema condutor do vegetal funciona de forma intermitente, entrando em um estado de hibernação no outono, e voltando à atividade na primavera. Antes do estado de hibernação, o vegetal forma uma camada externa de proteção mais espessa, denominada lenho primaveril ou lenho estival. Após este período, o vegetal volta a produzir tecido “por cima” deste lenho. Em corte radial, estes lenhos, produzidos ao longo dos anos, podem ser vistos como anéis, sendo que cada anel equivale a um ano de vida do vegetal.
Quando se derruba uma árvore, vários tipos de corte podem ser realizados no tronco. Entre eles, o corte plano e o radial.
Corte plano: é um corte que aproveita a totalidade do tronco em pranchas de madeira que incluem vários anéis de crescimento em diferentes proporções. Este corte pode deixar a madeira relativamente instável e sujeita à torção ao longo dos anos. É o tipo mais usado de corte por indústrias moveleiras.
Corte Radial: é um tipo de corte que sempre segue o raio do tronco, abrangendo todos os anéis anuais de forma homogênea. Este corte favorece muito a propagação do som pela madeira, pois abrange as fibras da madeira sem interrupções, ao contrário do anterior. Esta característica confere um sustain infinitamente maior para o instrumento.
No Brasil este segundo tipo de corte de madeira é muito difícil de ser encontrado e é extremamente disputado entre luthiers pela qualidade das pranchas. Sua raridade deve-se ao fato da dificuldade de obter cortes dessa forma em máquinas e da baixa aplicabilidade, isto é: “para quê dificultar o corte se não tem mercado para um corte melhor?”
Outro fator importante e que afeta o timbre do instrumento é o tipo de madeira. A escolha da madeira será muito mais evidente em instrumentos acústicos, mas também influencia muito instrumentos sólidos. Cada madeira possui uma densidade e um tipo de distribuição das fibras. Estas características, bem como algumas outras, como produção de resina, resultarão no timbre característico da madeira. O Timbre do instrumento será o resultado da composição das madeiras utilizadas em sua construção. Seguem algumas madeiras e suas características.
Vegetal e características | Árvore |
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Jacarandá-da-Bahia (Brazilian Rosewood) Dalbergia nigra Densidade: 0,87 g/cm3 Timbre: Macio com brilho |
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Mogno (Mahogany) Swietenia macrophylia Densidade: 0,63 g/cm3 Timbre encorpado e cheio |
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Basswood Tília americana Densidade 0,45 g/cm3 Tibre médio e com muito sustain |
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Maple Acer sp. Densidade 0,49-0,61 g/cm3 Timbre: Agudos e graves bem definidos e agressivos |
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Ash Fraxinus americana Densidade 0,67 g/cm3 Timbre similar ao Maple com menos agressividade |
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Alder Alnus glutinosa Densidade 0,55 g/cm3 Timbre: Som agudo anasalado |
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Ébano Trochetiopsis ebenus Densidade 1,2 g/cm3 Timbre com agudos claros, muito ataque e sustain. |
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Lembrando que o timbre final é uma combinação não só de madeiras mas de uma série de peças, além, é claro, do músico.
ResponderExcluirBom post.
Ótima colocação, Gabriel! Tudo o que foi falado é sobre uma vertente de influência de timbre, mas o encordoamento, a captação, a ponte, as furações, influenciam muito no timbre. A forma do guitarrista tocar também é uma influência importante.
ResponderExcluiroLÁ MUITO LEGAL O BLOG, PARABENS!
ResponderExcluirparabéns pela blog. ótimo painel sobre as madeiras!
ResponderExcluirBoa tarde.
ResponderExcluirEstrou precisando fazer alguns concertos em meu contrabaixo e gostaria de saber se você tem como realizar os serviço ou indicar alguém que como Experience na cidade de São Carlos.
Grato pela atenção
Fernando Vecchio
email: vecchio.eng@gmail.com
tel: (16)81527638
Ser luthier é saber temperar esses ingredientes, não só ter técnica e bom acabamento na construção do instrumento.É como na culinária não é só juntar os ingredientes e colocar no fogo acompanhando uma receita cada prato é único que vai ser degustado numa condição específica... Assim como o instrumento não Há dois iguais no mundo...Instrumento, Luthier, melhor ou pior??? São só diferentes...
ResponderExcluirBom post!
ResponderExcluirEu estou a fazer duas guitarras eléctricas com faia pois é uma madeira muito semelhante ao maple. E pelo menos encontra-se faia com facilidade aqui em Portugal. Mas há uma situação que eu já verifiquei: se estivermos a falar de guitarras acústicas, o tipo e estado da madeira tem muita influência, mas com as eléctricas a história já muda. Eu tenho uma guitarra eléctrica cujo corpo é de um aglomerado bastante denso que, há 2 anos, coloquei-lhe pickups da Fender. Pedi a um amigo meu que é músico onde esteve a tocar nela, ao que concluiu de que os pickups são a alma de uma guitarra eléctrica. Ficou com um som igual ao de uma Fender verdadeira. Bom, para falar verdade, não tem um sustain tão prolongado, mas o som está lá! Posso estar enganado, mas para uma guitarra eléctrica, o importante é a densidade do corpo da guitarra...
Cumprimentos!
Muito esclarecedor.Eu já sabia que cada instrumento possui som único;porém,não de forma tão técnica.
ResponderExcluirpreciso de pranchas de madeira Maple para fabricar minha batera. Alguém pode me indicar um fornecedor?
ResponderExcluirBoa tarde André,
ResponderExcluirLi o seu post, parabéns muito bom e informativo, agora você sabe onde posso encontrar esse tipo de madeiro que você cita?
Boa tarde André,
ResponderExcluirLi o seu post, parabéns muito bom e informativo, agora você sabe onde posso encontrar esse tipo de madeiro que você cita?
Onde posso comprar destas madeiras em Portugal. Queria construir umas guitarras e não sei quem venda. Mandar vir também desconheço de onde, ando a pesquisar. Obrigado
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