


Bom, pessoal, é isso aí.. mais um capítulo terminado e mais u ano terminado também. No começo do ano postarei mais alguns trabalhos insteressantes e dicas... Estou aberto a sugestões.
Um abraço e um excelente ano novo a todos!
Blog da Arsenal, incluindo dicas e curiosidades inerentes ao mundo dos instrumentos de cordas. Postagens por Luthier André.
Hoje vou comentar algo que me deixou um pouco chateado. Há algum tempo recebi na oficina um baixo que apresentava um problema bem grave, que não é tão incomum, embora eu nunca tenha visto nesta intensidade. O braço do baixo apresentava uma torção séria que, acreditem, qualquer leigo perceberia. O que me chateia é que se trata de um baixo de braço integral construído por um Luthier que, por isso, deveria apresentar um controle criterioso de qualidade de construção e madeira.
A madeira realmente estava boa, mas a construção, como vocês podem perceber pelas fotos, deixou muito a desejar. Após perceber a torção, o cliente me solicitou que fizesse um braço para o baixo (opção dele transformar em braço aparafusado). Quando removi o braço original foi que percebi que os problemas eram mais sérios do que eu imaginava.
A remoção do braço foi feita com auxílio de uma serratico-tico e completa com serra manual. Removido, a parte de madeira do braço foi retirada, restando o corpo e o tensor.. O restante da escala foi então removido com calor e um espátula. Pode ser percebido pela próxima foto que o tensor foi instalado no braço de forma completamente fora de centro, o que pode ter auxiliado na torção. Além disso, o arredondamento do braço foi completamente assimétrico, o que também cotribui para a instabilidade do instrumento.
Após este passo, foi iniciada a costrução do braço. Foi escolhida uma mistura de duas madeiras para o braço: Marfim e Ipê preto, ou ipê dente-de-cão. Para a escala foi utilizado Jacarandá da Bahia.
A escala foi cortada copiando a escala do braço do baixo original (34").
A escala foi colada no braço e o corpo foi escavado
e moldado para o encaixe do braço. Após isso os trastes foram inseridos e o braço está pronto para o acabameto.
E aqui está ele. Corpo e braço prontos para o acabamento.
Seria muito legal se não fosse triste por ver uma construção tão mal feita deste baixo de braço integral, por um suposto luthier. Fica a mesagem: quando comprarem um instrumento de luthier, cabe conhecer os trabalhos do luthier antes de aprovar um orçamento, ou você corre o risco de ter que refazer, pois cada detalhe na conctrução é fundamental para a estabilidade e qualidade do instrumento.
Em um próximo Blog mostrarei o resultado final.
Até a próxima.
André
Antes de falar disso cabe uma pequena explicação sobre o crescimento das árvores, mais especificamente o crescimento radial do caule. Principalmente em plantas de clima temperado, com estações bem definidas, o sistema condutor do vegetal funciona de forma intermitente, entrando em um estado de hibernação no outono, e voltando à atividade na primavera. Antes do estado de hibernação, o vegetal forma uma camada externa de proteção mais espessa, denominada lenho primaveril ou lenho estival. Após este período, o vegetal volta a produzir tecido “por cima” deste lenho. Em corte radial, estes lenhos, produzidos ao longo dos anos, podem ser vistos como anéis, sendo que cada anel equivale a um ano de vida do vegetal.
Quando se derruba uma árvore, vários tipos de corte podem ser realizados no tronco. Entre eles, o corte plano e o radial.
Corte plano: é um corte que aproveita a totalidade do tronco em pranchas de madeira que incluem vários anéis de crescimento em diferentes proporções. Este corte pode deixar a madeira relativamente instável e sujeita à torção ao longo dos anos. É o tipo mais usado de corte por indústrias moveleiras.
Corte Radial: é um tipo de corte que sempre segue o raio do tronco, abrangendo todos os anéis anuais de forma homogênea. Este corte favorece muito a propagação do som pela madeira, pois abrange as fibras da madeira sem interrupções, ao contrário do anterior. Esta característica confere um sustain infinitamente maior para o instrumento.
No Brasil este segundo tipo de corte de madeira é muito difícil de ser encontrado e é extremamente disputado entre luthiers pela qualidade das pranchas. Sua raridade deve-se ao fato da dificuldade de obter cortes dessa forma em máquinas e da baixa aplicabilidade, isto é: “para quê dificultar o corte se não tem mercado para um corte melhor?”
Outro fator importante e que afeta o timbre do instrumento é o tipo de madeira. A escolha da madeira será muito mais evidente em instrumentos acústicos, mas também influencia muito instrumentos sólidos. Cada madeira possui uma densidade e um tipo de distribuição das fibras. Estas características, bem como algumas outras, como produção de resina, resultarão no timbre característico da madeira. O Timbre do instrumento será o resultado da composição das madeiras utilizadas em sua construção. Seguem algumas madeiras e suas características.
Vegetal e características | Árvore |
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Jacarandá-da-Bahia (Brazilian Rosewood) Dalbergia nigra Densidade: 0,87 g/cm3 Timbre: Macio com brilho |
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Mogno (Mahogany) Swietenia macrophylia Densidade: 0,63 g/cm3 Timbre encorpado e cheio |
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Basswood Tília americana Densidade 0,45 g/cm3 Tibre médio e com muito sustain |
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Maple Acer sp. Densidade 0,49-0,61 g/cm3 Timbre: Agudos e graves bem definidos e agressivos |
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Ash Fraxinus americana Densidade 0,67 g/cm3 Timbre similar ao Maple com menos agressividade |
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Alder Alnus glutinosa Densidade 0,55 g/cm3 Timbre: Som agudo anasalado |
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Ébano Trochetiopsis ebenus Densidade 1,2 g/cm3 Timbre com agudos claros, muito ataque e sustain. |
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Aí vão algumas dicas para conservação de instrumentos, para facilitar a vida do instrumentista e evitar problemas de longo prazo.
Estas dicas são válidas para instrumentos não encerados e com escala não envernizada.
DICAS IMPORTANTES:
Aqui estão alguns dos produtos para limpeza/hidratação que utilizamos para manutenção em nossa oficina:
Para inciar as postagens do blog, resolvi comentar um tema polêmico entre guitarristas e luthiers, que é a escolha do potenciômetro ideal.
Antes de explicar tecnicamente o que é o potenciômetro, é importante entender o que é uma resistência. Quando certa corrente elétrica passa em um circuito livre de resistência, a corrente de entrada é igual à de saída, isto é, não há dissipação dessa corrente. Quando há uma resistência neste circuito, a corrente que passar por ela será dissipada, e ao final do circuito, a corrente será menor.
O potenciômetro é uma RESISTÊNCIA VARIÁVEL. Ele é composto por uma sapata (skate) de metal, que desliza, quando giramos o eixo, sobre uma pista de carbono. Em cada potenciômetro convencional, há 3 conectores, um ligado a cada ponta da pista de carbono e um ligado a essa sapata (central).
O potenciômetro de volume, em geral, possui um dos conectores das pontas ligado ao terra (negativo), um ao captador (ou saída da chave seletora) e o outro ao Jack de saída (e/ou ao próximo passo do circuito, por exemplo ao potenciômetros de tom). Quando giramos o eixo, aproximando a sapata do conector ligado ao terra, aumentamos o caminho da corrente elétrica pela resistência, aumentando a resistência do circuito e, conseqüentemente, diminuindo a corrente (o volume).
No potenciômetro de tonalidade, um dos conectores é ligado a um capacitor, que é um componente capaz de filtrar a corrente, eliminando freqüências. Logo, o potenciômetro de tom (ligado ao capacitor, tem o objetivo de tirar os agudos naturais do captador).
DÚVIDAS FREQUENTES
1 – Utilizo resistências de 250k ou 500k? A ou B? O que é isso???????
Existem diversos tipos de potenciômetros e a escolha do tipo errado pode afetar o timbre e o ganho dos captadores. Em geral, para captadores single, utilizam-se potenciômetros de 250k e para captadores duplos (humbuckers), utilizam-se 500k. Em circuitos ativos, em geral, são utilizados potenciômetros de menor resistência, como os de 50k. Em uma visão simplificada, podemos dizer que, quanto maior a resistência, mais agudo ficará o timbre, por isso, potenciômetros de 250k tendem a deixar o timbre de humbuckers muito grave e de 500k deixam o de single muito agudos, por isso constuma-se utilizar 500k quando se tem pelo menos 1 humbucker e 250k quando são apenas single.
Quanto ao “A ou B”, é uma dúvida freqüente entre instrumentistas. Então ATENÇÃO: a escolha de A ou B para volume ou tom depende do gosto do instrumentista e não altera o timbre do instrumento. Por convenção a maioria das fábricas utiliza A para volume (mudanças rápidas de volume) e B para tom (uma grande gama de opções de timbre).
· Potenciômetros B, mais conhecidos como Lineares (“LIN”), possuem escala linear, isto é, conforme giramos o eixo, o aumento de resistência é gradativo e proporcional ao giro.
· Potenciômetros A, mais conhecidos como Logarítmicos (“LOG”), possuem escala logarítmica, isto é, conforme giramos o eixo, o aumento da resistência segue uma escala log (aumenta repentinamente no fim da escala).
2 – Meu potenciômetro está “chiando” quando giro o eixo!
É muito comum a pista de carbono apresentar impurezas, poeira, sujeira no seu percurso. Logo, quando a sapata passa por essa sujeira, é normal que ocasione barulhos desagradáveis. Para isso, uma limpeza costuma resolver. Para isso, os luthiers abrem os potenciômetros, limpam a pista de carbono com álcool isopropílico e um pincel fino e macio. Isso remove as impurezas. Pode também ser adicionada uma gota de óleo de máquina após a limpeza para lubrificação. Em alguns casos, a limpeza não é suficiente, e o potenciômetro ou a pista de carbono devem ser substituídos.
Deve ser ressaltado que não é interessante utilizar óleos como WD ou outros anti-ferrugem, pois eles podem danificar a pista de carbono e a sapata.
Por hora não entrarei mais em detalhes, mas se tiverem alguma dúvida, me mandem um e-mail que terei prazer em responder!!
Luthier André