quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Construção de braço para baixo...

Olá a todos.

Hoje vou comentar algo que me deixou um pouco chateado. Há algum tempo recebi na oficina um baixo que apresentava um problema bem grave, que não é tão incomum, embora eu nunca tenha visto nesta intensidade. O braço do baixo apresentava uma torção séria que, acreditem, qualquer leigo perceberia. O que me chateia é que se trata de um baixo de braço integral construído por um Luthier que, por isso, deveria apresentar um controle criterioso de qualidade de construção e madeira.

A madeira realmente estava boa, mas a construção, como vocês podem perceber pelas fotos, deixou muito a desejar. Após perceber a torção, o cliente me solicitou que fizesse um braço para o baixo (opção dele transformar em braço aparafusado). Quando removi o braço original foi que percebi que os problemas eram mais sérios do que eu imaginava.

A remoção do braço foi feita com auxílio de uma serratico-tico e completa com serra manual. Removido, a parte de madeira do braço foi retirada, restando o corpo e o tensor.. O restante da escala foi então removido com calor e um espátula. Pode ser percebido pela próxima foto que o tensor foi instalado no braço de forma completamente fora de centro, o que pode ter auxiliado na torção. Além disso, o arredondamento do braço foi completamente assimétrico, o que também cotribui para a instabilidade do instrumento.

Após este passo, foi iniciada a costrução do braço. Foi escolhida uma mistura de duas madeiras para o braço: Marfim e Ipê preto, ou ipê dente-de-cão. Para a escala foi utilizado Jacarandá da Bahia.


A escala foi cortada copiando a escala do braço do baixo original (34").

A escala foi colada no braço e o corpo foi escavado

e moldado para o encaixe do braço. Após isso os trastes foram inseridos e o braço está pronto para o acabameto.







E aqui está ele. Corpo e braço prontos para o acabamento.

Seria muito legal se não fosse triste por ver uma construção tão mal feita deste baixo de braço integral, por um suposto luthier. Fica a mesagem: quando comprarem um instrumento de luthier, cabe conhecer os trabalhos do luthier antes de aprovar um orçamento, ou você corre o risco de ter que refazer, pois cada detalhe na conctrução é fundamental para a estabilidade e qualidade do instrumento.

Em um próximo Blog mostrarei o resultado final.

Até a próxima.


André



quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Olá a todos!
No final de semana passado (dia 14 de novembro, foi realizado o segundo workshop de luthieria da Arsenal Luthieria. Apesar do calor e do jogo do Brasil, foi uma experiência muito legal. Agradeço a todos da escola de música Espaço Musical pela oportunidade.
Neste workshop foram abordado tópicos como qualidade em construção, madeiras, tipos de instrumentos, entre muitos outros assuntos. Além disso, o pessoal aprendeu como realizar procedimentos de limpeza e manutenção, além de tiras suas dúvidas.
Mais uma vez agradeço a todos os presentes e ao pessoal do Espaço musical por um sábado bem divertido!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Madeiras Para Instrumentos Musicais

Cada vez menos as pessoas tem se importado com a qualidade do instrumento que adquirem, prestando maior atenção na aparência ou tradição da marca. Isso é aceitável para leigos, porém para músicos profissionais é um comportamento que deve ser mudado pelo simples fato de que cada instrumento possui um timbre peculiar, e quando digo cada instrumento quero dizer exatamente isso: dois instrumentos de mesma marca e de um mesmo modelo são diferentes em timbre. Toda essa peculiaridade provém da madeira. Então como deve ser a madeira ideal para um instrumento?

Antes de falar disso cabe uma pequena explicação sobre o crescimento das árvores, mais especificamente o crescimento radial do caule. Principalmente em plantas de clima temperado, com estações bem definidas, o sistema condutor do vegetal funciona de forma intermitente, entrando em um estado de hibernação no outono, e voltando à atividade na primavera. Antes do estado de hibernação, o vegetal forma uma camada externa de proteção mais espessa, denominada lenho primaveril ou lenho estival. Após este período, o vegetal volta a produzir tecido “por cima” deste lenho. Em corte radial, estes lenhos, produzidos ao longo dos anos, podem ser vistos como anéis, sendo que cada anel equivale a um ano de vida do vegetal.


Quando se derruba uma árvore, vários tipos de corte podem ser realizados no tronco. Entre eles, o corte plano e o radial.

Corte plano: é um corte que aproveita a totalidade do tronco em pranchas de madeira que incluem vários anéis de crescimento em diferentes proporções. Este corte pode deixar a madeira relativamente instável e sujeita à torção ao longo dos anos. É o tipo mais usado de corte por indústrias moveleiras.

Corte Radial: é um tipo de corte que sempre segue o raio do tronco, abrangendo todos os anéis anuais de forma homogênea. Este corte favorece muito a propagação do som pela madeira, pois abrange as fibras da madeira sem interrupções, ao contrário do anterior. Esta característica confere um sustain infinitamente maior para o instrumento.

No Brasil este segundo tipo de corte de madeira é muito difícil de ser encontrado e é extremamente disputado entre luthiers pela qualidade das pranchas. Sua raridade deve-se ao fato da dificuldade de obter cortes dessa forma em máquinas e da baixa aplicabilidade, isto é: “para quê dificultar o corte se não tem mercado para um corte melhor?”

Outro fator importante e que afeta o timbre do instrumento é o tipo de madeira. A escolha da madeira será muito mais evidente em instrumentos acústicos, mas também influencia muito instrumentos sólidos. Cada madeira possui uma densidade e um tipo de distribuição das fibras. Estas características, bem como algumas outras, como produção de resina, resultarão no timbre característico da madeira. O Timbre do instrumento será o resultado da composição das madeiras utilizadas em sua construção. Seguem algumas madeiras e suas características.


Vegetal e características

Árvore


Jacarandá-da-Bahia (Brazilian Rosewood)

Dalbergia nigra

Densidade: 0,87 g/cm3

Timbre: Macio com brilho



Mogno (Mahogany)

Swietenia macrophylia

Densidade: 0,63 g/cm3

Timbre encorpado e cheio



Basswood

Tília americana

Densidade 0,45 g/cm3

Tibre médio e com muito sustain



Maple

Acer sp.

Densidade 0,49-0,61 g/cm3

Timbre: Agudos e graves bem definidos e agressivos



Ash

Fraxinus americana

Densidade 0,67 g/cm3

Timbre similar ao Maple com menos agressividade



Alder

Alnus glutinosa

Densidade 0,55 g/cm3

Timbre: Som agudo anasalado



Ébano

Trochetiopsis ebenus

Densidade 1,2 g/cm3

Timbre com agudos claros, muito ataque e sustain.




quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Dicas de limpeza externa em guitarras e baixos

Olá!




Aí vão algumas dicas para conservação de instrumentos, para facilitar a vida do instrumentista e evitar problemas de longo prazo.

Estas dicas são válidas para instrumentos não encerados e com escala não envernizada.


Com o instrumento apoiado em sua bancada, siga os passos:



  • Remova as cordas velhas



  • Proteja todas as partes do instrumento que não serão alvo da limpeza.




  • Molhe uma flanela com álcool ISOPROPÍLICO (não use álcool comum) e aplique-a na madeira da escala (onde ficam presos os trastes) com rigor, para remover marcas de gordura. Aplique quantas vezes forem necessárias para remover toda a sujeira e não deixe que o álcool escorra para partes envernizadas!

  • No lugar do álcool isopropílico pode ser utilizado naphta (fluido de isqueiro).



  • Depois de limpar a escala, cubra TODA a madeira com fita crepe, deixando expostos apenas os trastes (podem ser utilizados protetores próprios para escala, como na foto).







  • Tomando sempre cuidado para não atingir a madeira, passe uma palha de aço fina (Bombril) sem força, apenas para polir os trastes, até que eles recuperem o brilho.



  • Remova as fitas adesivas da escala se tiver colocado.


  • Com um espanador remova os restos de palha de aço de todo o instrumento (inclusive aqueles que ficarem por cima dos pólos dos captadores) e retire as fitas adesivas dos captadores.

  • Aplique na escala com a parte amarela da esponja comum (parte não abrasiva), óleo de limão (não utilize de fabricação caseira) para “hidratar” a escala.

  • Para limpeza e polimento do corpo, utilize produtos específicos (dunlop 65, por exemplo) da seguinte forma: Aplique o produto, tire o excesso com uma flanela e esfregue uma parte seca da flanela até que retome o brilho do verniz.

  • Agora você pode instalar cordas novas e aproveitar!


DICAS IMPORTANTES:


  • Carro é carro e guitarra é guitarra: Não utilize cera automotiva em superfícies envernizadas: ela é abrasiva e pode prejudicar pinturas mais frágeis (como gibson).


  • Para instrumentos de escala envernizada, a escala não precisa ser hidratada, e pode ser tratada como o restante das partes envernizadas, apenas com óleo polidor, que já limpará a superfície.

Aqui estão alguns dos produtos para limpeza/hidratação que utilizamos para manutenção em nossa oficina:







A escolha dos potenciometros

Para inciar as postagens do blog, resolvi comentar um tema polêmico entre guitarristas e luthiers, que é a escolha do potenciômetro ideal.

Antes de explicar tecnicamente o que é o potenciômetro, é importante entender o que é uma resistência. Quando certa corrente elétrica passa em um circuito livre de resistência, a corrente de entrada é igual à de saída, isto é, não há dissipação dessa corrente. Quando há uma resistência neste circuito, a corrente que passar por ela será dissipada, e ao final do circuito, a corrente será menor.

O potenciômetro é uma RESISTÊNCIA VARIÁVEL. Ele é composto por uma sapata (skate) de metal, que desliza, quando giramos o eixo, sobre uma pista de carbono. Em cada potenciômetro convencional, há 3 conectores, um ligado a cada ponta da pista de carbono e um ligado a essa sapata (central).

O potenciômetro de volume, em geral, possui um dos conectores das pontas ligado ao terra (negativo), um ao captador (ou saída da chave seletora) e o outro ao Jack de saída (e/ou ao próximo passo do circuito, por exemplo ao potenciômetros de tom). Quando giramos o eixo, aproximando a sapata do conector ligado ao terra, aumentamos o caminho da corrente elétrica pela resistência, aumentando a resistência do circuito e, conseqüentemente, diminuindo a corrente (o volume).


No potenciômetro de tonalidade, um dos conectores é ligado a um capacitor, que é um componente capaz de filtrar a corrente, eliminando freqüências. Logo, o potenciômetro de tom (ligado ao capacitor, tem o objetivo de tirar os agudos naturais do captador).

DÚVIDAS FREQUENTES

1 – Utilizo resistências de 250k ou 500k? A ou B? O que é isso???????

Existem diversos tipos de potenciômetros e a escolha do tipo errado pode afetar o timbre e o ganho dos captadores. Em geral, para captadores single, utilizam-se potenciômetros de 250k e para captadores duplos (humbuckers), utilizam-se 500k. Em circuitos ativos, em geral, são utilizados potenciômetros de menor resistência, como os de 50k. Em uma visão simplificada, podemos dizer que, quanto maior a resistência, mais agudo ficará o timbre, por isso, potenciômetros de 250k tendem a deixar o timbre de humbuckers muito grave e de 500k deixam o de single muito agudos, por isso constuma-se utilizar 500k quando se tem pelo menos 1 humbucker e 250k quando são apenas single.

Quanto ao “A ou B”, é uma dúvida freqüente entre instrumentistas. Então ATENÇÃO: a escolha de A ou B para volume ou tom depende do gosto do instrumentista e não altera o timbre do instrumento. Por convenção a maioria das fábricas utiliza A para volume (mudanças rápidas de volume) e B para tom (uma grande gama de opções de timbre).

· Potenciômetros B, mais conhecidos como Lineares (“LIN”), possuem escala linear, isto é, conforme giramos o eixo, o aumento de resistência é gradativo e proporcional ao giro.

· Potenciômetros A, mais conhecidos como Logarítmicos (“LOG”), possuem escala logarítmica, isto é, conforme giramos o eixo, o aumento da resistência segue uma escala log (aumenta repentinamente no fim da escala).


2 – Meu potenciômetro está “chiando” quando giro o eixo!

É muito comum a pista de carbono apresentar impurezas, poeira, sujeira no seu percurso. Logo, quando a sapata passa por essa sujeira, é normal que ocasione barulhos desagradáveis. Para isso, uma limpeza costuma resolver. Para isso, os luthiers abrem os potenciômetros, limpam a pista de carbono com álcool isopropílico e um pincel fino e macio. Isso remove as impurezas. Pode também ser adicionada uma gota de óleo de máquina após a limpeza para lubrificação. Em alguns casos, a limpeza não é suficiente, e o potenciômetro ou a pista de carbono devem ser substituídos.

Deve ser ressaltado que não é interessante utilizar óleos como WD ou outros anti-ferrugem, pois eles podem danificar a pista de carbono e a sapata.

Por hora não entrarei mais em detalhes, mas se tiverem alguma dúvida, me mandem um e-mail que terei prazer em responder!!

Luthier André

Saudações!

Há cerca de 10 anos resolvi procurar que me ensinasse a arte da Luthieria. Foi quando encontrei a B&H escola de Luthieria em seu início. Rapidamente me matriculei e iniciei o curso assim que a turma se formou. Com um empurrão de nada menos do que os Luthiers Márcio Benedetti e Henry Ho, pude dar início à minha paixão. Montei minha oficina de manutenção literalmente no fundo do quintal de casa e, aos poucos, com mais e mais experiência, a oficina foi aumentando. Hoje estamos em um novo endereço (que já está pequeno) em São Carlos, com loja de acessórios para instrumentos e athelier de construção.